sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Não joguem pedra na Geni

Eu lembro de uma cena aos seis anos em que estava na cozinha ouvindo o rádio e então tocou Geni e o Zepelim do Chico Buarque. Eu interpretei a música de uma forma tão profunda que me fez chorar, eu não lembro muito bem o porque e nem ao menos lembrava da letra da música. Resolvi procurar essa música e quando vi a letra fiquei emocionada a ponto de eriçar minha pele. É tão intensa e tão injusta que me fez refletir sobre a sociedade em que vivemos.
A música fala de Geni, uma mulher na qual dá seu corpo aos pobres, aos velhos, aos deficientes, aos orfãos, às viúvas, a todas as pessoas em que a sociedade condena. Todos a julgam como depravante, todos querem sua desgraça pelo fato dela se entregar às pessoas em que todos excluem. Mas então, chega alguém superior a todos, na qual promete destruir tudo e a todos até conhecer Geni. Um homem poderoso, rico que Geni recusou, preferindo animais a ele. É então que as pessoas começam a beijar os pés de Geni, e a pobre Geni com seu coração bom acreditou em tanta sinceridade e sentimentos que resolveu se entregar ao forasteiro poderoso. Ela salvou a todos, até se sentiu bem por ter ajudado as pessoas na qual demonstraram tanto afeto por ela e é então que todos começam a julgá-la novamente:

"Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni"

O que mais me intriga, foi o fato de com seis anos eu ter conseguido sentir o que essa música transmite, que é justamente sobre tanta falsidade encobrindo tantos rostos que só descobrimos no momento em que deixamos de servir para alguma coisa. Um bom exemplo em que consigo aplicar a letra é sobre nossa política, na qual os pobres só são lembrados na época da eleição, onde os candidatos muito bem intencionados mostram tamanha pobreza de nosso país, prometem inúmeras coisas, conquistam a esperança dessas pessoas desafortunadas e quando consegue o que quer, os apedrejados são os pobres, que continuam com tamanha miséria. É uma vergonha que Chico Buarque transformou em arte.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Jornada do SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente)

Você tem que acordar cedo, bem cedo, antes do sol nascer. Então se arruma, espera um ônibus por qualquer tempo, não estimado. Finalmente, o ônibus passa. Ali mesmo, você adquire a viagem com espetáculo do sol nascer pelo preço de R$2,30. Por sorte, não tem trânsito, afinal, não são tantas pessoas que acordam cedo assim. Chegando lá você vê que tem gente que acorda cedo sim, já tem uma fila de trinta ou quarenta pessoas, mas por sorte, você será atendido. Chega um rapaz muito ajeitadinho, usa até gravata e recita várias instruções. Ele não fez um ensino superior, mas pelo menos trabalha direitinho, é um cara responsável, assim como boa maioria ali presente na fila, que a essa hora deve estar entre sessenta pessoas. Então ele te orienta e te dá um papelzinho. Você acorda cedo pra conseguir um papelzinho, uma espécie de bingo pra ter direito a um serviço público. Ótimo, já são seis da manhã é só esperar o número presente no papelzinho ser sorteado. Mas, o que acontece? Outro rapaz ajeitadinho só atenderá a partir das 7:40, então eles são legais e ligam a TV de plasma muito sofisticada e te apresentam um vídeo super interativo com várias informações sobre o que o SAC pode fazer para sua vida ficar mais fácil e mais confortável. Recapitulando, tudo isso para tirar uma carteira de trabalho, afinal, você só será alguém na vida ou alguém que queira ser algo caso possua a bendita carteira azul. Pois bem, você espera, aprende tudo o que o sac tem para te informar (que não é pouca coisa) e acaba decorando, porque deve ter repetido tantas vezes que com aquele calor você só tinha duas coisas a fazer: abanar seu rosto com os documentos necessários e continuar assistindo naquela belíssima televisão de plasma. Finalmente, às 7:40 eles começam a atender, chama um, dois, três, todos os números dos papéizinhos e tcharam: seu número foi sorteado. Lá tem uma moça muito gentil e simpática que te atende, coisa de cinco minutos. Então você faz a jornada pra conseguir cinco minutos da atenção da querida atendente do sac, que amávelmente lhe entrega outro papel e pede para você voltar novamente depois de um mês, afinal, a jornada continua.